terça-feira, 29 de março de 2011

Fragmentos de Futebol: A origem!

A partir dessa postagem, pretendo regularmente utilizar este espaço para transcrever trechos de obras importantes sobre o futebol, como uma forma de difundir grandes trabalhos realizados sobre o esporte bretão, muitas vezes ignorado pelo grande público.
Cheguei a cogitar a idéia de criar um novo blog especificamente para essa finalidade, porém acredito ser possível mesclar meus “pitacos” com a divulgação de trechos que considero bastante relevantes para um melhor entendimento desse esporte que transcende o âmbito esportivo; futebol é mais do que um esporte, futebol é um microcosmo da sociedade, como classificado pelo Prof. Hilário Franco Jr. na obra “A dança dos deuses: Futebol Sociedade e Cultura”.(São Paulo : Companhia das Letras, 2007)

E para a primeira postagem nada melhor do que aquele tido por muitos como o maior estudo sobre as origens do futebol no Brasil, o livro “O negro no futebol brasileiro”, do genial Mario Filho.

Espero que gostem e aproveitem esses trechos, que doravante chamarei de Fragmentos de Futebol.

No Fragmento abaixo, Mario Filho expõe algumas diferenças entre dois dos maiores (senão os maiores) jogadores do nosso país: Pelé e Garrincha.



“Não havia beque ou alfe* que não quisesse tirar a carteira de ídolo de Pelé e de Garrincha. Subitamente os dois foram transformados numa espécie de inimigos públicos número um dos companheiros de profissão. Eram caçados à ponta de chuteira em todos os jogos.


Garrincha não reagia. Levava o pontapé como se fosse uma trouxa. Caía a dois metros, já embrulhado, depois é que apalpava as pernas para ver se tinha alguma coisa quebrada. Não tinha, levantava-se e nem olhava para quem lhe metera o pé. Só algumas vezes, recebendo uma pancada mais forte, para quebrar mesmo, é que erguia os olhos mansos, como se perguntasse:


- Que é que lhe fiz?


(...)


Pelé reagia. Depois de derrubado, como se uma foice o tivesse decepado, erguia-se de um salto. E olhava o pistoleiro do outro time bem no fundo dos olhos, quando não revidava logo.


Tinha de reagir. O pai dele, Dondinho, ficara marcado, no joelho, para o resto da vida, justamente quando ia alçar o vôo como jogador. Pelé não esquecia o horror da mãe pelo futebol que fizera o marido sofrer. A missão dele era reabilitar o futebol aos olhos da mãe. Dar ao pai a fama que nunca tivera."



Nota: * "alfe" era a maneira como eram chamados os jogadores do meio de campo. Deriva de um abrasiliamento da palavra inglesa center-half (meio de campo)

O negro no futebol brasileiro / Mario Filho (Páginas 332 e 333)
Rio de Janeiro : Mauad, 2003. 5ª edição, 2010

2 comentários:

Samira Calais disse...

Muito bom!
Essas obras literárias sobre o futebol são incríveis, e de uma poesia que só devia ser possível ver em campo.
Posso dar uma sugestão?
À sombra das chuteiras imortais, de Nelson Rodrigues. Tem contos bem legais que ele publicou durante toda a carreira.
Vale muito a pena.

Abraço,
Samira
http://oquedeuerradofc.blogspot.com/

12 de abril de 2011 às 13:42
Gilson Bernardo disse...

Sugestão anotada!!!

Tenho essa obra em .pdf, porém ainda não a li!!

Obrigado pelo comentário!!!

12 de abril de 2011 às 16:17

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